domingo, 31 de outubro de 2010

Dilma é eleita primeira mulher presidente do Brasil



Após quatro meses de uma campanha em que temas morais e religiosos ofuscaram propostas concretas sobre temas importantes à nação, Dilma Rousseff é eleita a primeira presidente da história brasileira. A candidata petista derrotou o tucano José Serra em um segundo turno em que a abstenção superou os 20 milhões de eleitores.

Quatro segundos. Nenhuma palavra. Uma mesa distante da do chefe. Essa foi a participação de Dilma Rousseff na primeira propaganda eleitoral do candidato Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002. Oito anos depois, ungida por seu mentor para sucedê-lo, a ex-ministra, na primeira disputa eleitoral de sua vida, transcendeu a fama de gestora sisuda para se tornar a primeira presidente da história brasileira.

Sem programa, um de seus desafios será provar que não é apenas uma sombra de Lula, dizem analistas. Além da confiança do presidente, o grande trunfo da petista foi a política de alianças adotada pelo PT e pelo próprio presidente para elegê-la. Graças ao apoio formal de PMDB, PCdoB, PDT, PRB, PR, PSB, PSC, PTC e PTN, a campanha de Dilma ganhou força com o início do horário eleitoral obrigatório. Com isso, a candidata ganhou personalidade.

Ficou por pouco o triunfo já no 1º turno, depois de uma onda de rumores e outra de denúncias envolvendo seus aliados. Para vencer na votação de 31 de outubro, a ex-ministra-chefe da Casa Civil teve de renovar seu pragmatismo assinando compromissos com religiosos, iniciar campanha negativa contra o rival José Serra (PSDB) e trocar a gagueira que a abatia nos idos de abril, na pré-campanha, por aquilo que chamou de “assertividade”, mas que foi considerado agressividade pelos adversários.

No caminho para ser hoje a presidente eleita do Brasil, Dilma sofreu para ganhar trânsito com políticos em geral e com eleitores mais animados em ver seu mentor do que a ela própria.

Precisou de dois Josés Eduardos para guiá-la: Dutra, presidente do PT, e Cardozo, secretário-geral do partido. Obediente e pragmática, atendeu prontamente aos conselhos do marqueteiro João Santana. Adotou novo visual.

A presidente eleita forjada na campanha é diferente da especialista em energia que, com seu temperamento forte, foi alçada ao primeiro time do governo após o escândalo do mensalão, em 2005.

Neste ano, tentou aliviar a imagem da mulher que passava descomposturas em colegas ministros. “Sou uma mulher dura cercada de homens meigos”, costuma dizer, em tom de ironia. Buscou evitar confrontos, mas às vezes partiu para o ataque, principalmente em momentos-chave do segundo turno.

Filiada ao PT há menos de uma década, a ex-pedetista Dilma conquistou seu primeiro cargo público pelo voto. No fim dos anos 80, ninguém pensava que a secretária de Finanças de Porto Alegre iria tão longe.

O mesmo se passou com quem a visse na mesma pasta do governo gaúcho, anos depois. Agora ela terá quatro anos para provar se é capaz de atuar como protagonista, e não como uma mera coadjuvante.

Sem programa

Dilma não precisou de uma Carta ao Povo Brasileiro – nos moldes da divulgada por Lula antes da campanha de 2002, indicando que não faria mudanças radicais na economia.

Mas, no segundo turno, comprometeu-se com questões religiosas. Após uma campanha contra ela em igrejas católicas e templos evangélicos, prometeu não enviar ao Congresso projetos que interfiram nesses assuntos. Assim, estancou a polêmica sobre sua posição a respeito da liberação do aborto.

“Em uma campanha com candidatos tão parecidos, essa carta foi um momento importante porque evitou maior acirramento e colocou as coisas no lugar”, disse a reportagem o cientista político Luciano Dias, do Ibep (Instituto Brasileiro de Estudos Políticos).

“A Dilma neobeata foi mais um sinal de pragmatismo. É um sinal de que a governabilidade será tão ou mais importante do que foi para Lula, já que ela não tem o mesmo estofo”, afirma Dias.

A presidente eleita insistiu tanto na defesa de avanços recentes que nem sequer apresentou plano de governo. “Sabemos o que acontecerá na parte econômica? Não. Sabemos se haverá reformas? Não. O que sabemos é que Dilma terá a sombra de Lula do começo ao fim de seu governo”, afirma Cláudio Couto, da FGV (Fundação Getúlio Vargas). "O sinal dado por sua campanha é de que as coisas vão continuar mais ou menos como estão.”

Ainda assim, com tantas dúvidas sobre o que virá, não houve solavancos no mercado financeiro. Está subentendido que serão mais quatro anos de autonomia não-formal do Banco Central, de câmbio flutuante, de investimento em infraestrutura e de medidas macroeconômicas em fatias, raramente em forma de pacotes. “A conversão do PT já está feita. Lula vai sair carregado nos braços, e o mercado já não liga”, afirma Dias.

A volúpia do PMDB e de aliados à esquerda, como PSB e PCdoB, mais poderosos depois das eleições 2010, também acende dúvidas sobre se a presidente eleita será capaz de acomodar tantos aliados de primeira hora em seu governo.

Adversários acusam e aliados reconhecem: Dilma não terá a mesma capacidade de articulação exercida por Lula. “E seria diferente se Serra vencesse?”, pergunta Couto.

Sem teflon

Na campanha, a presidente eleita mostrou que aprendeu mais uma lição de seu maior defensor: deixar pelo caminho aliados que se envolvam em práticas suspeitas.

Na reta final das eleições, Dilma sofreu ataques dos adversários por conta de sua ex-braço direito na Casa Civil, Erenice Guerra, demitida do ministério depois que seu filho se envolveu com lobistas. Lula fez o mesmo com José Dirceu e Antonio Palocci.

“Não vou aceitar que se julgue a minha pessoa com base no que aconteceu com um filho de uma ex-assessora”, disse Dilma. As pesquisas citaram o caso Erenice como principal fator para a disputa do segundo turno.

“A popularidade do Lula é resultado de décadas. A maior parte da popularidade de Dilma não vem dela mesma”, afirma Dias, do Ibep. “Até pela folgada maioria no Congresso, ela será mais observada pela mídia.”

Alguns dizem que Dilma esquentará o principal assento do Palácio do Planalto para que Lula retorne em 2014. Outros preferem vê-la como uma mulher forte, que sobreviveu à prisão e ao câncer para golpear um cenário político repleto de caras antigas. Uns tantos a consideram uma burocrata que terá dificuldades para conduzir o país por falta de ginga com os políticos de Brasília.

Com uma trajetória que só começou a ser conhecida há poucos meses, talvez o Brasil precise de quatro anos para saber a resposta.

Faltam referências – e plano de governo divulgado – para definir-se o que Dilma buscará de diferente em relação a Lula. Se é que fará isso. O dado concreto – como a própria gosta de dizer – é que ela ascendeu de figurante em 2002 a estrela em 2010.

O resto é conversa?
Ex-presidente Fernando Henrique Cardoso


No artigo que estamos reproduzindo nesta oportunidade, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, publicou neste domingo, nos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo, apresentou a verdade sobre assuntos que todo brasileiro deveria conhecer.
Um texto que melhora o domingo de todos os brasileiros, pois trás luz a uma verdade que todos já sabiamos.



SEM MEDO DO PASSADO

Fernando Henrique Cardoso

O presidente Lula passa por momentos de euforia que o levam a inventar inimigos e enunciar inverdades. Para ganhar sua guerra imaginária, distorce o ocorrido no governo do antecessor, auto glorifica-se na comparação e sugere que se a oposição ganhar será o caos. Por trás dessas bravatas está o personalismo e o fantasma da intolerância: só eu e os meus somos capazes de tanta glória. Houve quem dissesse “o Estado sou eu”. Lula dirá, o Brasil sou eu! Ecos de um autoritarismo mais chegado à direita.


Lamento que Lula se deixe contaminar por impulsos tão toscos e perigosos. Ele possui méritos de sobra para defender a candidatura que queira. Deu passos adiante no que fora plantado por seus antecessores. Para que, então, baixar o nível da política à dissimulação e à mentira?

A estratégia do petismo-lulista é simples: desconstruir o inimigo principal, o PSDB e FHC (muita honra para um pobre marquês…). Por que seríamos o inimigo principal? Porque podemos ganhar as eleições. Como desconstruir o inimigo?

Negando o que de bom foi feito e apossando-se de tudo que dele herdaram como se deles sempre tivesse sido. Onde está a política mais consciente e benéfica para todos? No ralo.

Lamento que Lula se deixe contaminar por impulsos tão toscos e perigosos. Ele possui méritos de sobra para defender a candidatura que queira. Deu passos adiante no que fora plantado por seus antecessores. Para que, então, baixar o nível da política à dissimulação e à mentira?

Na campanha haverá um mote – o governo do PSDB foi “neoliberal” – e dois alvos principais: a privatização das estatais e a suposta inação na área social. Os dados dizem outra coisa. Mas os dados, ora os dados… O que conta é repetir a versão conveniente.

Há três semanas Lula disse que recebeu um governo estagnado, sem plano de desenvolvimento. Esqueceu-se da estabilidade da moeda, da lei de responsabilidade fiscal, da recuperação do BNDES, da modernização da Petrobras, que triplicou a produção depois do fim do monopólio e, premida pela competição e beneficiada pela flexibilidade, chegou à descoberta do pré-sal. Esqueceu-se do fortalecimento do Banco do Brasil, capitalizado com mais de R$ 6 bilhões e, junto com a Caixa Econômica, libertados da politicagem e recuperados para a execução de políticas de Estado.

Esqueceu-se dos investimentos do programa Avança Brasil, que, com menos alarde e mais eficiência que o PAC, permitiu concluir um número maior de obras essenciais ao país. Esqueceu-se dos ganhos que a privatização do sistema Telebrás trouxe para o povo brasileiro, com a democratização do acesso à internet e aos celulares, do fato de que a Vale privatizada paga mais impostos ao governo do que este jamais recebeu em dividendos quando a empresa era estatal, de que a Embraer, hoje orgulho nacional, só pôde dar o salto que deu depois de privatizada, de que essas empresas continuam em mãos brasileiras, gerando empregos e desenvolvimento no país.

Esqueceu-se de que o país pagou um custo alto por anos de “bravata” do PT e dele próprio. Esqueceu-se de sua responsabilidade e de seu partido pelo temor que tomou conta dos mercados em 2002, quando fomos obrigados a pedir socorro ao FMI – com aval de Lula, diga-se – para que houvesse um colchão de reservas no início do governo seguinte. Esqueceu-se de que foi esse temor que atiçou a inflação e levou seu governo a elevar o superávit primário e os juros às nuvens em 2003, para comprar a confiança dos mercados, mesmo que à custa de tudo que haviam pregado, ele e seu partido, nos anos anteriores.

Os exemplos são inúmeros para desmontar o espantalho petista sobre o suposto “neoliberalismo” peessedebista. Alguns vêm do próprio campo petista. Vejam o que disse o atual presidente do partido, José Eduardo Dutra, ex-presidente da Petrobrás, citado por Adriano Pires, no Brasil Econômico de 13/1/2010. “Se eu voltar ao parlamento e tiver uma emenda propondo a situação anterior (monopólio), voto contra. Quando foi quebrado o monopólio, a Petrobrás produzia 600 mil barris por dia e tinha 6 milhões de barris de reservas. Dez anos depois, produz 1,8 milhão por dia, tem reservas de 13 bilhões. Venceu a realidade, que muitas vezes é bem diferente da idealização que a gente faz dela”.

O outro alvo da distorção petista refere-se à insensibilidade social de quem só se preocuparia com a economia. Os fatos são diferentes: com o Real, a população pobre diminuiu de 35% para 28% do total. A pobreza continuou caindo, com alguma oscilação, até atingir 18% em 2007, fruto do efeito acumulado de políticas sociais e econômicas, entre elas o aumento do salário mínimo. De 1995 a 2002, houve um aumento real de 47,4%; de 2003 a 2009, de 49,5%. O rendimento médio mensal dos trabalhadores, descontada a inflação, não cresceu espetacularmente no período, salvo entre 1993 e 1997, quando saltou de R$ 800 para aproximadamente R$ 1.200. Hoje se encontra abaixo do nível alcançado nos anos iniciais do Plano Real.

Por fim, os programas de transferência direta de renda (hoje Bolsa-Família), vendidos como uma exclusividade deste governo. Na verdade, eles começaram em um município (Campinas) e no Distrito Federal, estenderam-se para Estados (Goiás) e ganharam abrangência nacional em meu governo. O Bolsa-Escola atingiu cerca de 5 milhões de famílias, às quais o governo atual juntou outras 6 milhões, já com o nome de Bolsa-Família, englobando em uma só bolsa os programas anteriores.

É mentira, portanto, dizer que o PSDB “não olhou para o social”. Não apenas olhou como fez e fez muito nessa área: o SUS saiu do papel à realidade; o programa da aids tornou-se referência mundial; viabilizamos os medicamentos genéricos, sem temor às multinacionais; as equipes de Saúde da Família, pouco mais de 300 em 1994, tornaram-se mais de 16 mil em 2002; o programa “Toda Criança na Escola” trouxe para o Ensino Fundamental quase 100% das crianças de sete a 14 anos. Foi também no governo do PSDB que se pôs em prática a política que assiste hoje a mais de 3 milhões de idosos e deficientes (em 1996, eram apenas 300 mil).

Eleições não se ganham com o retrovisor. O eleitor vota em quem confia e lhe abre um horizonte de esperanças. Mas se o lulismo quiser comparar, sem mentir e sem descontextualizar, a briga é boa.

Nada a temer.


DEBATE SEM DEBATE
A imprensa, de uma maneira geral, tem cobrado dos candidatos à presidência da República uma discussão mais profunda dos programas de governo que deverão implementar se eleitos.
Uma insistência sem consistência porque o debate interessa a quem? Só a imprensa. Alguém perguntou ao povo se eles estão dispostos a ouvir, refletir e decidir sobre o melhor programa? Bobagem pura!
A quem interessa as pesquisas de intenção de votos? O eleitor? Não, aos partidos e as empresas de comunicação.
Os que os institutos de pesquisa garimparam nesta eleição é um absurdo: mais de oitocentas pesquisas no país como um todo.
Estas pesquisas só interessam aos partidos para obter recursos financeiros para a campanha. Copiam das práticas turfísticas: descarregam suas fichas só no cavalo vencedor! Pangaré não paga nada. Só se ele for azarão.
O problema da insistente crítica da imprensa repousa numa situação tão simples: ninguém pergunta ao eleitor o que ele deseja para o seu país?
Como ele decide. Não decide com antecedência. Só no dia da eleição. Sempre foi assim.
Porque insistimos nesta prática de total pasmaceira dos políticos a cargo majoritário na reta final das eleições? Porque os partidos políticos não discutem com seus eleitores as questões prioritárias do país? Por quê? Porque a eles não interessa explicar nada ao eleitor que por sua vez também não se interessa!
Interessa ao eleitor se o candidato vai manter o seu emprego, seu poder de compra, sua tranqüilidade. Escola, saúde, segurança pública sempre serão os motes de campanha dos candidatos. Por quê? Porque ele sabe que não vão resolver. Há quantos anos a plataforma dos políticos é mesma?
Ai vem o cientista político e diz: o povo é sábio, o povo sabe votar. É lógico ele decide sobre valores subjetivos, situação que a pesquisa não consegue identificar e os políticos não identificam. Eles sabem o quanto o eleitor ganha, qual a sua religião, como ele sente a sua vida, mas ele não coloca as suas angústias, seus anseios, pois a tradição lhe informa que é assim mesmo. Um grande contingente de esquecidos. Não teem tempo para pensar. Precisam sobreviver.
O sistema político, a nossa formação histórica, a falta de educação de formação e informação, o desconhecimento das leis básicas de direitos e obrigações, a difícil conquista da cidadania, dificultam sobremaneira como discutir os problemas do país e como irão influir na nossa vida. O mundo se profissionalizou daí se não nos profissionalizarmos não entenderemos as necessidades do povo. A frase de Tom Jobim é emblemática. O político e o eleitor não desejam entender o Brasil. Ponto! Exige disposição e talento.
Vamos atender a imprensa e fazer um debate político sobre várias questões do Brasil.
Poderemos começar com a questão da valorização do real e a conseqüente desvalorização do dólar. Neste aspecto poderíamos aprofundar a questão do debate e pensar como as empresas brasileiras suportarão a desindustrialização, ou seja, decidir importar máquinas, peças, e montar no Brasil, desempregando outros setores da economia.
Se o governo mexer na taxa de juros, a maior do mundo, a taxa de cambio se altera? Como fazer isso, sem que haja inflação. Poderíamos também discutir a questão da exportação de minério de ferro para a China e a compra de trilhos para o trem bala (felizmente não colocaram em discussão este projeto megalomaníaco)?
Como garantir o crescimento do país com uma taxa de investimento de apenas 18% quando o necessário é de pelo menos 25% sobre o PIB? A China alcança com a sua economia a taxa de 45%. Este número é que dá o nível de crescimento do país, que quer dizer, maior produção, mais emprego, mais tecnologia.
Poderíamos também debater os motivos pelas quais nossas “commodities” no valor de 1 dólar para exportação e quando voltam em forma de produto custam 4 dólares. Esta é uma proporção.
Poderemos também falar sobre a nossa dívida interna que de 650 bilhões de reais, em 2003, passou para perto de 1 trilhão e alguns 500 bilhões de reais no último ano. Cada brasileiro nasce devendo perto de R$ 8.000,00.
Poderíamos também ver esta discussão de que pagamos o FMI. Qual o valor da dívida? Zeramos a conta?
Poderíamos fazer uma discussão vigorosa sobre a questão da arrecadação e engatar sobre a reforma tributária. Os dois candidatos poderiam explicar como a arrecadação do Brasil em 2003 era de 340 bilhões de reais e hoje passa de 1 trilhão de reais.
A candidata do governo e o opositor poderiam explicar à população como a arrecadação cresce menos que o nível de despesas do governo.
Aonde foram alocados, outra discussão interessante, os mais de 100 mil funcionários e perto de 60 mil cargos em comissão admitidos nos últimos anos.
Como colocar a questão da educação como alavanca de desenvolvimento se o governo criou um sistema de cota, aumentou o número de universitários e o Brasil não possui nenhuma universidade de qualidade reconhecida no mundo. Como enfrentar a China e a Índia que produzem pessoas inteligentes, por ano, igual à população brasileira. Como competir no futuro com esses países. Em um teste feito por 57 países ocupamos em matemática o 53º lugar e em ciências 52º.
Outro tema palpitante: como fazer o aumento da participação do Brasil no comercio internacional? Na década que se encerra a participação do Brasil no mercado internacional passou de 1,4% para 1,6%.
Infelizmente, o nível do debate fica na questão do Preto e da Erenice, um campeonato para ver quem tem o pior amigo e descobrir o incorrigível defeito. O país é uma questão de detalhe.
Tudo culpa do FHC!


“Se você tem asco da corrupção, não pode ser um asno na votação”.

Senador Romeu Tuma

 
SERRA OU DILMA?

 
Se confirmar a pesquisa eleitoral no próximo domingo o Lula será eleito pela terceira vez.

 
Será?

 
Esta é a grande dúvida que o eleitor terá e os analistas políticos, cientistas políticos, jornalistas vão se deliciar. Prato cheio!

 
Na hipótese de Serra não conseguir a maioria de votos encerra-se o ciclo do político técnico, competente, duro e sem carisma. Um técnico que conhece profundamente orçamento público, planejamento estratégico. Domina com perfeição o bisturi financeiro. Na prefeitura de São Paulo renegociou os contratos da Marta e obteve uma vantagem de 17%. Um político que governa com a oposição, realizador, e que tem o dom de não aparecer.

 
Detesta refletores, talvez aí a dificuldade na campanha de aparecer melhor ao eleitor e não transmitir uma idéia de realizador.

 
Um político de opinião com a capacidade de “falar grosso” com grandes laboratórios internacionais e defender um plano mundial de combate a AIDS.

 
Peço licença ao leitor para fazer um parêntesis. O compositor e musico Chico Buarque, no comício de apoio dos artistas à candidatura Dilma, afirmou que ela é de ”falar fino com a Bolívia e grosso com os Estados Unidos”. Impossível a um homem culto não reconhecer que o Brasil falou fino com a Bolívia, ou seja, entregou uma refinaria projetada e construída por uma empresa, uma sociedade anônima, a Bolívia. Num país sério seria a diretoria da Petrobras e o presidente da República, denunciados por improbidade administrativa, salvo, se o país solicitasse a uma Corte Internacional para arbitrar o conflito. Nada foi feito. Como falar grosso com os Estados Unidos se a balança comercial brasileira é negativa em relação os Estados Unidos, ou seja, o Brasil está trocando empregos no Brasil por empregos nos Estados Unidos através de produtos importados. O produto americano é mais barato que o produto brasileiro. O Brasil está falando “fininho” com os Estados Unidos e engolindo a recuperação da economia americana à custa dos países emergentes. Fim do parêntesis.

 
Serra é um governante que tem a capacidade de montar uma equipe econômica coesa e competente e a capacidade de decidir sobre qualquer assunto do país. A sua passagem pelo Ministério da Saúde, um administrador e não médico, que acordava amigos médicos, altas horas da madrugada, para solicitar informações técnicas sobre problemas de saúde e como ataca-los com eficiência. Daí os mutirões da saúde.

 
Serra tem visão de planejamento estratégico, emérito criador de cenários políticos e de macroeconomia.

 
Certa feita, perguntaram ao Amador Aguiar porque ele não aproveitava o ex-ministro da Fazenda, Delfim Neto, como um alto funcionário de seu banco. E ele dizia, prefiro o Simonsen ao Delfim. Para os íntimos dizia que o Delfim quebraria o Banco. Delfim é administrador público, o Simonsen é homem de mercado. Dito e feito. Simonsen montou um banco e nas horas vagas cantava ópera e o Delfim virou palestrante, conferencista, produtor de sátiras, sempre falando sobre macroeconomia.

 
O perfil de Serra é o mesmo de Delfim e com uma característica: é firme e duro nas decisões e cobra dos membros de seu partido detalhes nos projetos de solicitação de recurso financeiro ao governo. Se não provar a eficiência do projeto o dinheiro não saía. Por isso muitos políticos tucanos não veem o Serra com bons olhos.

 
Caso Serra vença as eleições o Congresso Nacional, via PMDB, daria facilmente o apoio ao governo. O PMDB é um partido movido à grana, mas, com certeza o Ministro de Minas e Energia não seria o braço do Sarney, o Lobão. Nome apropriado, pois adora tomar conta das uvas do governo. O presidente do Banco Central não seria o presidente do Brasil.

 
Cá entre nós a herança bendita de FHC foi garantida por Henrique Meirelles, saído das hostes tucanas de Goiás.

 
As decisões econômicas seriam tomadas num regime de colegiado entre o ministério da Fazenda, ministério do Planejamento e o presidente da República.

 
Num governo Serra jamais veríamos e ouviríamos um ministro da Fazenda criticar uma decisão do Banco Central sobre a taxa Selic publicamente.

 
Lembrar que o então presidente Fernando Henrique, na eleição de sua sucessão, chamou todos os candidatos à presidência para relatar a situação do país, assuntos pendentes e de decisões de curto prazo.

 
Estes gestos políticos refinados não serão mais vistos na política brasileira. Tudo está bem. E não está! Vencendo Serra ou Dilma, segunda feira, dia 1º de novembro o presidente eleito deveria tomar uma medida urgente sobre o tripé do Plano Real: meta de inflação, taxa de juro e câmbio.

 
Com referência a eleição de Dilma o perfil de seu governo dependerá da vontade de Lula, da ala de José Dirceu e Dilma, da corrente do Palocci e da pressão do PMDB. Será um governo de coalizão difusa.

 
O grande risco de Dilma é não saber administrar a “herança maldita” que o Lula vai deixar. Faz parte do plano? Só o futuro dirá.

 
O feitiço contra o feiticeiro!

 

  • Nota - A partir do dia 13 de outubro último tenho o título de jornalista com o Registro Profissional nº. 59376/SP, conforme decisão do STF-RE 511.961. Espero e peço a Deus que possa exercer esta nova profissão sobre a égide da democracia e da liberdade de imprensa.